As mulheres e o Islã: entenda o papel feminino no mundo muçulmano
Normalmente, muitas pessoas, quando pensam em mulheres islâmicas, logo imaginam criaturas absolutamente oprimidas e enroupadas até os pés por burcas — ou, na melhor das hipóteses, criaturas submissas obrigadas a manter as cabeças cobertas por lenços. Infelizmente, em alguns países essa é a realidade mesmo. Aliás, por que elas se deixam dominar dessa forma? E mais: qual é o verdadeiro papel das mulheres no Islã?
Questão de ordem
O islamismo, como você deve saber, é governado pela Sharia, uma espécie de sistema legal fundado por volta do século 7. Ela constitui um detalhado código de conduta que inclui regras sobre as práticas religiosas, bem como critérios sobre a moral, as coisas que são permitidas e proibidas e as normas que separam o bem e o mal. Em outras palavras, a Sharia codifica detalhadamente a conduta pessoal dos muçulmanos e rege todos os aspectos de suas vidas.
Esse conjunto de regras foi formalmente instituído como lei em determinados países islâmicos e, nesses casos, existem tribunais que garantem que elas sejam cumpridas. De acordo com Richard Stockton, do portal All That Is Interesting, se você acha que essas normas são duras de modo geral — e desfavorecem as mulheres atualmente —, nem queira imaginar como eram as coisas no passado, antes de o Islã se tornar a religião predominante no Oriente Médio.
Segundo Richard, na Arábia Pré-Islâmica, era comum que bebezinhas fossem enterradas vivas simplesmente por serem meninas, sem falar que as regras que governavam a vida em família e em comunidade mudavam de vilarejo para vilarejo — tornando bem complicada a interação entre os diferentes povos. Pois o que a Sharia fez foi estabelecer uma série de regras padronizadas a serem seguidas por todos, facilitando a convivência dos clãs.
Esse sistema dita, por exemplo, que os muçulmanos são superiores aos cristãos e judeus que, por sua vez, são superiores aos pagãos e ateus. Também de acordo com a Sharia, homens e mulheres islâmicos são espiritualmente iguais perante Alá — mas apenas espiritualmente.
Isso porque a lei define em detalhes quais são os papéis de cada um na sociedade e, segundo o código, os homens sempre estarão um pouquinho acima das mulheres em questões que incluem a religião, as leis e a vida em sociedade.
Contratos
Um dos aspectos que mais despertam a curiosidade e a indignação nos ocidentais é o casamento “arranjado” entre o pai da noiva e o futuro marido. Em países mais liberais, a questão não passa de uma mera formalidade. Contudo, em outros locais, onde a Sharia é lei, os contratos são levados muito a sério, e as negociações incluem detalhes específicos sobre o dote que deve ser pago pela família da moça e até os termos de um possível divórcio.
Aliás, assim como ocorre no Ocidente, onde os contratos matrimoniais são tão comuns, as negociações muçulmanas dão origem a um acordo parecido — que é “lavrado” por um jurista islâmico. Além disso, a Sharia, conforme explicamos anteriormente, ainda define de forma precisa quais são as responsabilidades de maridos e esposas.
De acordo com a Sharia, enquanto os homens são as figuras públicas de suas famílias e têm como responsabilidade encontrar uma forma honesta de sustentar seus dependentes, as mulheres se tornam parte do “clã” de seus maridos e devem se ocupar da vida familiar. No fundo, apesar de ser difícil para os ocidentais entenderem a essência da coisa, basicamente a lei islâmica tenta garantir que os homens ofereçam lar e proteção às suas mulheres.
Desequilíbrio
Para alguns, pode parecer que o “contrato” acima não tenha nada fora do comum. Afinal, essa é — guardadas as devidas proporções e interpretações, evidentemente! — a realidade de muitos casais mundo afora, onde os homens são responsáveis pelo ganha-pão, enquanto as mulheres se ocupam dos afazeres domésticos e do cuidado dos filhos. Então, onde é que os problemas começam no mundo islâmico?
Nessas sociedades, embora as mulheres se encarreguem de controlar as casas, a palavra final é sempre do marido. Ademais, como eles são responsáveis pelo suporte financeiro das famílias, os homens têm direito a receber heranças maiores do que as delas e, de maneira geral, os esposos são vistos como espécies de supervisores de suas esposas.
Eles são considerados responsáveis pelas ações delas e podem ter que responder por violações que elas cometam. Por conta disso, em muitos países, as mulheres são obrigadas a informar seus maridos toda vez que elas saem de casa e, em sociedades mais severas, elas jamais podem sair sem a companhia de um homem da família.
Exagero
Assim como existem praticantes de outras religiões — como o cristianismo e o judaísmo — que dão determinadas interpretações às sagradas escrituras e aplicam os ensinamentos com rigidez, o mesmo acontece com os muçulmanos. Não há, por exemplo, nenhuma lei no Alcorão que dite que as mulheres devam se cobrir da cabeça aos pés, e existem muitos países tradicionalmente islâmicos pelo mundo que não aplicam restrições.
Por outro lado, em alguns países — como é o caso do Afeganistão, do Irã e da Arábia Saudita —, as restrições não só existem como podem resultar em punições severas para quem não obedecer ao código estabelecido. Portanto, em determinadas nações, as mulheres devem usar a dupatta e hijab ou lenço que cobre os cabelos e o pescoço, e em outros, elas devem vestir o chador, ou seja, aquela capa longa que vai da cabeça até os pés, mas não cobre o rosto.
Em outros locais, as mulheres são obrigadas a usar a abaya e a niqab que, juntas, cobrem o corpo completamente e apenas deixam uma pequena abertura para os olhos. Por último, ainda existe a famosa burca, que, como você sabe, inclusive conta com uma tela que esconde até os olhos de que a está vestindo.
Desigualdade e injustiça
Voltando à questão de, segundo a Sharia, os homens estarem acima das mulheres, inclusive quando o assunto é o julgamento de transgressões, isso significa que elas sempre estarão em desvantagem perante os tribunais islâmicos. Tudo bem que, por um lado, as leis garantem que os chefes de família ponham comida na mesa e protejam suas esposas. Entretanto, por outro lado, também existem regras sobre quando e como um marido pode agredir sua mulher.
Quando os contratos de casamento são “firmados”, por exemplo, devem existir duas testemunhas do sexo masculino no ato da assinatura — ou uma do sexo masculino e duas do sexo feminino, porque o testemunho de uma mulher vale menos. Além disso, em casos de violência sexual, quase sempre as vítimas precisam apresentar quatro testemunhas masculinas ou, do contrário, as mulheres podem ser açoitadas por fazer acusações falsas.
Já se uma mulher for condenada à morte por conta de uma transgressão mais grave, sua vida pode ser poupada caso ela ainda seja virgem. Existem até relatos de agentes carcerários que se casam com as jovens na véspera das execuções com o simples intuito de contornar esse “detalhe” legal.
***
Vale destacar que a questão envolvendo as leis islâmicas é muito mais complexa do que parece. Embora aos olhos dos ocidentais a Sharia sirva para oprimir, controlar e discriminar as mulheres muçulmanas — e muitas vezes ela faça isso mesmo! —, muitas optam por adotar os códigos de conduta não por obrigação, mas simplesmente porque isso faz parte de sua cultura.
Na verdade, apesar de a Sharia ter surgido com a melhor das intenções, o verdadeiro problema está na forma como ela é interpretada e colocada em prática em algumas nações. Em outras palavras, o problema não está nas leis, mas sim nos tiranos que se apoiam nelas para reprimir e dominar os demais.
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FONTE(S) ALL THAT IS INTERESTING/RICHARD STOCKTON
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